Abro um espaço e no ócio tão raro e precioso, reflito, percorro o tempo e, penso nos transtornos que acarretamos, nós as mulheres, na ordem do mundo, desde que num ato de rebeldia consciente resolvemos mudar o curso de nossas vidas, e quebrar as seqüências e reavaliar os valores.
Que trabalho aprontamos com essa generalizada bagunça. Afinal, de nós foi sempre o esperado: o abrigo, o prazer, o conforto, o tempo e o sagrado posto de esposa e mãe.
É verdade que levamos conosco a dádiva de ser mulher, procriar e o dom de possuir esse sentimento pleno, avassalador, insubstituível que nos toma conta por inteiro e nos suga minuto a minuto a vida toda. Mas a par da plenitude e da beleza incorporada, que nos encanta e alimenta - e não abrimos mãos de vivê-lo - traz na bagagem fartas exigências, cobranças e responsabilidades que proliferam-se ao longo do tempo e juntam-se a sentimentos de tantas e quantas culpas imaginadas, mas reais, porque nos fizeram acreditar que a perfeição leva a perfeição e que o dever está em primeiro lugar.
E o tempo? Ah! Precioso tempo. Esse tempo que contamos, puxamos e esticamos e, desdobramos muitas vezes no afã de achar tempo para correr - e isso exige que sejamos as atletas que não somos - atrás de outras realizações pessoais, tão nossas e, vezes sem conta, impraticáveis porque não temos tempo.
São elos que se interligam com novos elos compondo densas correntes, e que nos acompanham e aos nossos conflitantes e arraigados valores vida afora.
São tantas as amarras, difícil e espinhosa tem sido a mudança por mais tênue que seja. Mas sabemos que estamos abrindo caminhos e que abrir caminhos nunca deu leveza aos passos. Energizadas e impulsionadas pelo desafio e a tenacidade engendrada no dia a dia, continuamos a persistir motivadas e fortalecidas.
Sabemos, também, que somos muitas e que de todas as maneiras, diferentes maneiras,estamos paulatinamente abrindo uma brecha à luz do mundo, para que possamos iguais em direito, mesmo parte de outros sonhos, buscar em outras plagas, os nossos tão sonhados sonhos. (Eloah Westphalen Naschenweng)