Valsa Derradeira
Quero dançar esta valsa derradeira, para que o
tempo imóvel possa recolher e trazer luares perdidos e na alma o tremor e a
agitação à espera de um longo voo.
Nas cores de auroras e no calor abrasado do sol
anunciante, em tuas mãos buscarei o toque seguro e no encanto o compasso e o
descompasso de um coração esperançado.
No ritmo e nos volteios cautelosos e tímidos dos
passos terei teu sorriso abrandado e o teu olhar cheio de luz.
Verei a emoção mover-se agarrando-se ao momento, e
no arrepio da pele espantada o renascer mudo de um sentimento que se redime.
Alheia e silenciosa, serei a quieta planície, a
terra que revolta cria novas raízes, a rústica planta perdida, as
flores faceiras, as rosas rainhas, o eco e o
suspiro do mundo, a chama viva e a alma
do universo.
Agarrada a este
céu de encantos que no tempo o amor guardou, cúmplice deste sonho que nos enleia, farei deste
momento íntimo, mesmo que por segundos,
o céu que pleno revoa.